Brasil, pátria amada Brasil
Staël, nossa querida mãe, tinha orgulho do Brasil, e cantava o Hino Nacional com emoção. Sabia também o Hino da Bandeira, recitava Castro Alves com olhos marejados, conhecia bem nossa história, se orgulhava de suas origens diamantinenses de família abolicionista, culta, laica, liberal e libertária. Pessoas como ela fazem falta. Ultimamente vivemos uma destruição cultural do sentido de nação, como se o amálgama que nos constitui como um povo estivesse se desfazendo frente a uma onda crescente de mal-estar com nossa brasilidade, ainda mais achincalhada pela descrença generalizada na nossa capacidade de hospedar a Copa do Mundo.
Hoje, com estádios repletos e generosidade de gols, transporte funcionando, multidões se deslocando norte a sul com relativa segurança e muita alegria, jornais estrangeiros elogiam o país e devolvem, como num espelho reverso, uma imagem positiva de nós mesmos. Imagem ainda frágil, a ser protegida dos desmandos da nossa crítica implacável e persistente ao Brasil, onde tudo é pior que lá fora. A incapacidade de reconhecer avanços fundamentais em nosso processo civilizatório, como a diminuição da pobreza, a ampliação de direitos humanos a partir da Constituição de 1988, liberdades democráticas e instituições políticas mais consolidadas, reduz a imagem do nosso país a suas mazelas, que, sendo reais, não o definem. é meritória a indignação com a corrupção, com a violência, com problemas na saúde e na educação, com preconceitos que ferem o caráter plural de nossa sociedade. Essa indignação nos engrandece. Mas é também meritório reconhecer que vivemos em um sistema democrático que garante a expressão dessa indignação.
Além disso, como diria Staël, a inigualável dimensão e a beleza do Brasil emocionam.
Ivo Pitanguy é cirurgião plástico e Jacqueline Pitanguy é socióloga