A Fundação Carlos Chagas realizou o seminário,  Trabalhos de Mullher: Desafios para a Pesquisa no Século XXI, nos dias 14 e 15 de maio de 2013. Veja o programa do Seminário no site www.fcc.org.br.

Neste seminário a Fundação fez um  tributo a sua pesquisadora Cristina Bruschini , que deixa um importante legado às pesquisas sobre gênero, renda e mercado de trabalho. Participaram da mesa em homenagem a Cristina : Eleonora Menicucci, Ministra da Secretaria de Politicas para a Mulher, Elza Berquó, do CEBRAP, Alice Abreu da UFRJ, Jacqueline Pitanguy da CEPIA.

Abaixo as palavras de Jacqueline:

Fundação Carlos Chagas
14 de maio de 2013

 

Homenagem a Cristina Bruschini por Jacqueline Pitanguy Cristina foi e continua sendo uma influência marcante em minha vida. Na década de 70 eu vivia no Chile, era uma marxista empedernida e cheia de certezas quanto a infraestruturas, superestruturas e o caminhar inexorável da história rumo ao comunismo. Sexo, como categoria politica não existia para mim. Impregnada de verdades voltei ao Brasil e comecei a trabalhar no Depto de Sociologia da PUC do RJ, em uma pesquisa bastante pioneira sobre a participação da mulher no mercado de trabalho . Publicada em 1977 ,com o título Mão de Obra no Brasil: um inventário crítico, esta pesquisa teve um efeito fulminante na minha vida pois descobri o continente submerso da discriminação da mulher escancarado em números e percentagens, e sutil na linguagem censitária. Daí para o feminismo foi um passo. Cristina leu este trabalho, comentou comigo e a partir de então , com uma produção impressionante pelo numero e qualidade, enriqueceu o campo que transformou minha trajetória política.Cristina e eu nos cruzamos em vários caminhos, seminários, conferencias, um evento nos anos oitenta em Mount Holyoke , um College dos USA , onde tínhamos que vestir umas batas enormes, e devendo estar circunspectas junto ao corpo acadêmico, riamos e tropeçávamos nos panos esvoaçantes. Muitas memorias. Em 2010 telefonei para Cristina para comentar que a CEPIA estava concorrendo a um apoio da ONU Mulheres para atualizar e ampliar a publicação O Progresso das Mulheres no Brasil . Ela ficou entusiasmada com esta perspectiva, aceitou o convite para participar e deu varias ideias para continuar o trabalho que com Rosa Lombardi e Sandra Unbehaum, havia feito na edição anterior, cobrindo o período 1992-2002 onde , abordando o tema de trabalho, renda e politicas Sociais , apontava a conciliação entre família e trabalho como o principal desafio. Fiquei feliz em saber que, caso ganhássemos o edital, contaria com Cristina. Com a competente,sólida, coerente, confiável e honesta Cristina Bruschini que além destas qualidades pessoais , imprimia um selo de qualidade profissional no campo de renda, gênero, trabalho.Meses se passaram entre este primeiro contato e o momento em que, tendo finalmente conseguido o apoio da ONU , liguei novamente para dar a noticia de que iriamos iniciar o trabalho. Senti uma leve preocupação em sua voz. Discreta, disse que andava tendo uns probleminhas de saúde. Parou por aí. Lutando para que a doença ocupasse um espaço restrito em sua vida. Cristina disse que como havia se comprometido, faria o trabalho, com uma equipe. Que eu não me preocupasse. Em nenhum momento, ao longo de um ano, Cristina deixou de cumprir prazos, apresentar relatórios preliminares, estar representada por Arlene Ricoldi em reuniões da CEPIA. Com Arlene, Rosa e Cristiano, enriqueceu o Progresso das Mulheres 2003-2010 com um capitulo primoroso sobre trabalho ,renda e politicas sociais onde indicava o quanto a inserção da mulher no mercado de trabalho era marcada por avanços e permanências, dentre estas a continuidade de modelos tradicionais de família. Este foi seu ultimo trabalho. Como tudo em sua vida, um trabalho bem feito, serio, competente. Quando, em 2012, a CEPIA lançou o livro no Rio, fizemos uma pequena homenagem a Cristina, que estará sempre presente , com sua extensa e solida contribuição intelectual ao progresso das mulheres, com sua coerência, dignidade e elegância. Me sinto privilegiada de homenagear Cristina, Agradeço a Fundação Carlos Chagas por esta oportunidade.

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